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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Sessentona


Hoje, 26 de janeiro, minha mãe completa 60 anos. Uma data que será muito bem comemorada, por ela, e por todos que a amam.

Na verdade, acho que nunca, verdadeiramente, tinha imaginado minha mãe com sessenta anos de idade. Quando se é criança, mãe é o símbolo de toda a perfeição, a fortaleza, de seriedade, carinho, honestidade, bravura. É em quem mais confiamos. É nosso espelho, nossa imagem projetada.

Lembro até hoje o quanto admirava suas unhas compridas e vermelhas, desejando ferrenhamente ter idade para que pudesse, igualmente, ostentá-las assim. Lembro nitidamente também do quanto ela sempre foi presente na minha vida escolar, do controle saudável que exercia sobre todos os meus passos, horários, alimentação, saúde. Do quanto articulou para ensinar-me seus valores e convicções, desde as formas mais sutis até as mais escancaradas.

E o jeito que arrumava a casa. Os locais que escolhia para dispor os móveis e utilidades domésticas. A rotina perfeita que estabelecia. O eterno ir e vir entre levar e trazer para os cursos extra curriculares que fazia.

A disponibilidade que ela tinha, mesmo diante de seus inúmeros afazeres, sempre foi marcante em minha vida. Era fácil perceber que seus filhos estavam em primeiro lugar. Ela sempre deixou muito claro.

Lembro de brincar de idade. Imaginava, junto com ela, assim: e quanto eu tiver vinte anos (nossa, vinte anos!!!!) você mãe terá quarenta e quatro! Putz, quarenta e quatro... e gargalhadas mil aconteciam...

 - E quanto eu tiver trinta, você terá cinquenta e quatro. E quando você tiver sessenta anos, mãe, quantos anos eu terei?

 - Trinta e cinco, filha, você terá trinta e cinco... e quando eu tiver sessenta, quero comer muito doce, todos os doces que eu quiser! Quero ser uma vovó doce, bem doce... mas isso ainda vai demorar muito tempo! 

E o tempo passou... E foi mais rápido do que eu pensei.

Já consigo pintar minhas unhas de vermelho e andar de sapato alto o dia inteiro, sem precisar pegar os dela no armário, para brincar de mulher. Já tenho minhas próprias maquiagens e até pinto seus olhos verdes, de vez em quando, lindos, como sempre. Hoje, sou eu que estabeleço minha rotina, meus horários e gerencio a minha vida, espelhado no jeitinho que ela ensinou. 

Costumo guardar os objetos aqui de casa da mesma forma que ela sempre fez. O lugar do óleo de cozinha, dos vidros com mantimentos, a posição da gaveta dos panos de prato, talheres, assim como o rolo de macarrão, conchas, garfos e facas maiores também estão no mesmo lugar, caprichosamente imitadinhos.

Hoje, sou eu que levo e trago minha pequena nos cursos extra curriculares e me faço presente na sua vida escolar, tal como ela fazia... hoje, sou eu que vibro a cada conquista, que guardo os dentes dela para fazer brincos um dia, que me emociono ao ver as fotos e vídeos dela quando bebê, lembrando do quanto o tempo que passou foi bom e lindo. Hoje, sou eu que preparo os lanches dela, sempre do jeitinho caseiro e com carinho de mãe evidente. Sou eu que fico na plateia chorando feito louca ao ver a homenagem do dia das mães.

Ao viver meu papel de mãe, também revivo meu papel de filha...

É fácil imitar minha mãe... . Porque, se ela fez, é bom... é a certeza de que tudo vai dar certo.

É muito bom te ver sessentona, mãe. Representa um tempo de paz, de missão cumprida, de relógio e ritmo mais lentos, de emoções mais intensas e de percepções diferentes. É chegada a hora de olhar para o mundo sob novos ângulos, de projetar um futuro como nunca fora feito. Uma etapa para ser saboreada e ostentada com a sabedoria de toda a  vida até então percorrida.

Teus sessenta anos chegaram, minha mãe. Assim como os meus trinta e cinco. São novas fases as quais nos adaptaremos, sempre na fé de que o melhor faremos uma pela outra, como sempre.


E vamos continuar brincando de idade. Agora, quero imaginar eu com sessenta e tu com oitenta e quatro!!! Quando eu também for sessentona, teremos as duas vaga garantida do shopping, bem pertinho da porta, para passear de mãos dadas, comer bolo de chocolate e tomar sorvete, curtindo novas fases e assistindo a correria da nossa Helena com trinta e dois anos, lembrando do quanto também era bom e doce o tempo que ela tinha seis!

Te amo, muito! Feliz aniversário!

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