Esses dias, pensei na sorte. Não aquela sorte trivial, imprevisível, que te pega de surpresa e aparece assim só para te agradar. Pensava na sorte que caminhava do meu lado sempre, até parecer que fosse comum, esperado e já imperceptível.
Minha filha me chamou a atenção. No fim do dia, sempre que ela tem vontade, rezamos, a nosso modo, conversando sobre os acontecimentos do dia, e essencialmente agradecendo pelas coisas boas que aconteceram...
E qual foi a minha surpresa em escutar dela que agradecia pela cama quentinha e macia que tinha. "porque eu sei que algumas pessoas, nesse frio todo, não tem uma cama, nem uma casa, né mãe?"... é verdade filha, é verdade (#nónagarganta).
Essa aparente sorte que esquecemos que nos acompanha todo o tempo, desde que nos acordamos sob um teto seguro, até a hora de chegarmos para a convivência familiar noturna, de todos os dias. É dessa sorte que eu refletia por esses dias.
Não é possível chegar a uma conclusão certeira sobre este tema. Qual a razão para alguns terem e outros faltarem, por que nascer em uma família estruturada, com carinho, amor, comida, limpeza e aconchego, enquanto outros nascem sobre tiros do tráfico, acham normal tomar banho frio e acordar às 3 e meia da madrugada para ir à escola, a quilômetros de distância, caminhando no escuro.
Não pode ser simplesmente... sorte. Não seria plausível, nem lógico pensar tão minimamente sobre fatos tão relevantes e primordiais para o crescimento saudável de um ser humano. Um ato tão simples quanto dormir numa cama limpa e quentinha não poderia ser privilégio de alguns. Estudar num ambiente seguro, estruturado e pensado para o aprendizado, vestir roupas bonitas e sentir-se bela, arrumada, cheirosa...coisas aparentemente simples em que tudo contribui para a consolidação de uma pessoa com auto estima, que se sente capaz de realizar coisas, capaz de amar e ser amada, capaz de dar e receber...
E volto-me mais uma vez à sapiência das explicações espíritas, onde cada qual agrega, por merecimento, os avanços de cada encarnação. É confortante acreditar nesta máxima, embora não seja capaz de abstrair a comoção, diante de uma caso concreto injusto, nem mesmo de perder a capacidade de indignação perante a fraqueza do Estado, da sociedade e do conjunto que nos rege por obrigação.
Enquanto as pessoas não mudam, enquanto a sociedade não amadurece, enquanto os governos não param de se preocupar mais com siglas do que com os cidadãos, por ora, é bom poder contar com a sorte...
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