Há milhares de coisas que já cansei de tentar entender... Criei um mecanismo de auto defesa, capaz de me fortalecer diante do que não posso controlar.
É simples: aceitação.
Não aquela aceitação franca, sem questionamento, passiva. Aceitar não significa concordar, apenas entender sua insignificância diante do que não é possível mudar, ou do que não se quer mudar.
Já percebi que quando se aceita, o peso dos ombros diminui, a vida fica mais leve e o passo mais firme. Para quem o inverso insiste em acontecer, o fardo é mais árduo, os dias são mais longos e a frustração é corrente.
Preciso dizer que não entendo para aceitar minhas limitações, rever meus conceitos ou simplesmente iniciar um novo processo de entender. Mudam-se as perspectivas, alteram-se os dados e as versões e uma nova compreensão se faz.
Não entendo, mas aceito. Melhor assim.
Clarice Linspector traduziu, com singular doçura, o não entender:
Não entendo
Isso é tão vasto
que ultrapassa qualquer entender.
Entender é sempre limitado.
Mas não entender pode não ter fronteiras.
Sinto que sou muito mais completa quando não entendo.
Não entender, do modo como falo, é um dom.
Não entender, mas não como um simples de espírito.
O bom é ser inteligente e não entender.
É uma benção estranha,
como ter loucura sem ser doida.
É um desinteresse manso,
é uma doçura de burrice.
Só que de vez em quando vem a inquietação:
quero entender um pouco.
Não demais:
mas pelo menos entender que não entendo.
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