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quinta-feira, 31 de março de 2011

O ovo ou a galinha?


A proposta de hoje é repensar o ovo e a galinha...quem vem primeiro mesmo?

Há quem diga que foi o ovo, pois nenhuma criatura pode ter nascido sem um processo de nascimento. Há quem diga que foi a galinha, pois nenhuma reprodução existiria se não tivesse primeiro um gerador.

Filosofias galináceas à parte, o objetivo é pensar sobre a causa e o efeito. O que se atinge primeiro? A lógica garante que a causa deve ser combatida, pois os reflexos do conserto atingem diretamente os efeitos. Aí fica tudo certo, como se pretendia.

Na prática, entretanto, a teoria é outra.

Observei uma novidade em meu Estado. Preocupados com os índices alarmantes de acidentes de moto e no custo astronômico que cada acidente deste representa aos cofres públicos (uma estimativa pesquisada em R$ 50.000,00 por acidente), teve início uma campanha educativa para os motociclistas. Louvável a iniciativa, realmente o que se quer é que todos voltem para suas casas, após um cansativo dia de trabalho, ilesos, sem passar por nenhum acidente.

Isto, no entanto, é enfrentar o efeito, e não a causa. Fruto de pesquisas, concluiu-se que quem efetivamente utiliza, em maior número, o transporte por moto, são pessoas jovens, de baixa renda, que procuram um meio alternativo de locomoção, mais eficiente do que o transporte coletivo, de baixo custo e mais rápido, utilizando a moto para seu trabalho. Como são jovens, tendem a se arriscar mais e, proporcionalmente, são em maior número as vítimas dos acidentes.

A campanha visa pôr nos ombros do motociclista a responsabilidade de uma direção mais prudente. Isto é bom, aliás é pré requisito inclusive para a obtenção de uma carteira de motorista que ele efetivamente já conquistou, cuja operacionalidade também é paga pelos cofres públicos. Se um motociclista tem uma carteira de motorista sem ter a consciência de que o melhor para ele e para todos é a direção defensiva, já está aí instalado um problema. Uma causa a ser combatida...mas deixa pra lá...

Continuando...

Se eu tenho um motociclista que se arrisca mais, porque trabalha como entregador e suas contas, para serem pagas, dependem de sua rapidez na entrega, temos um novo problema, uma nova causa a ser combatida...mas deixa pra lá...

Se a mobilidade urbana é caótica, o transporte coletivo é uma falácia, e, a curto prazo, não se vislumbra hipótese de melhora, também temos um problema, mas continua deixando pra lá...

Se o acidentado ocupa um leito de hospital por mais de 30 dias, inchando o sistema público de saúde, dificultando que outros pacientes possam ocupar a vaga, para tratar de uma outra  doença (dengue, talvez? não, tuberculose - ainda tem gente, em 2011, morrendo de tuberculose, disse a voz do Brasil semana passada) forçando o médico a decidir qual paciente é mais grave e mas urgente, à custa da vida de um ou de outro na emergência, porque não há equipamentos para todos, temos aí um novo problema, mas deixa pra lá...

E tem mais...

Se, por força do acidente, temos um novo deficiente físico, que perde sua capacidade plena de trabalho, e passa ao grupo dos economicamente inativos, sustentado pelo grupo, cada vez menor, de economicamente ativos, temos outro problema, mas, que coisa, vou repetir, deixa isso pra lá...

Se os deficientes físicos continuarão com todas as suas limitações, com ajustes mínimos visando a melhoria, a inclusão cidadã e a participação ativa na sociedade, também temos problemas... ixi, deixa pra lá. Faz mais uma rampa de acesso e tá tudo certo.

Mais eficaz mesmo é a campanha de conscientização do motociclista...afinal, educação é tudo...

1 comentários:

Fernanda disse...

A questão do trânsito como um todo reflete a educacação do brasileiro. O desrespeito parte de todos os lados, motos versus carros versus veículos de grande porte versus pedestres.

Pedestres e motociclistas, por estarem mais expostos, configuram os casos com maior notoriedade. As campanhas de conscientização bem que poderiam se transformar em programas contínuos e as punições mais severas, pois infelizmente através da indústria das multas foi que o uso do cinto transformou-se em algo comum.

Ótimo texto, utilidade pública!

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