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domingo, 18 de dezembro de 2011

Cachorros humanos


Eu adoro cachorros! Tenhos duas aqui em casa e não nego o quanto elas são importantes para a convivência humana, para a demonstração de afeto, a concretização da consciência e da responsabilidade. O quanto são amorosas e fiéis, e o quanto preenchem nossa existência com seus rabos sempre abanando e suas demonstrações de carinho.

E, com tudo isso, ainda continuam sendo cachorros.

Também choquei-me ao ver o vídeo da tal enfermeira que torturou até a morte um pequeno yorkshire, uma raça de companhia, indefesa e minúscula. Foi, evidentemente, horrível saber que um ser humano é tão cruel a ponto de agir dessa forma.

Mas outras coisas chocaram-me ainda mais. A tortura ao animal foi realizada e frente a uma pequena criança de aparentemente dois ou três anos. Assim, como se tudo fosse normal.

Que tipo de princípios essa criança absorverá? A sociedade não está preocupada com isso?

Também foi omisso o tal autor do vídeo, que a tudo filmou sem chamar a atenção da algoz do cachorrinho, nem denunciar ou procurar ajuda imediatamente, na mesma tarde em que tudo ocorrera debaixo de seus olhos, sem socorrer o pobre bichinho que sofria, intervindo eficazmente? Preferiu postar o vídeo no youtube, ganhar popularidade e, dias depois, procurar a delegacia para ver a torturadora se dar mal.

Mais chocante ainda perceber que muitas daquelas torturas são praticadas não com animais, mas sim com crianças, mulheres, homens, idosos, mendigos, seres humanos espancados até a morte, longe de câmeras indiscretas, dia após dia, todos os dias, sem que a mesma comoção se estabeleça.

Chocante também é a repercussão do caso, onde muitos comentários nas redes sociais são exatamente em defesa dos animais em detrimento de seres humanos, como que desistindo da raça humana, conceituando o amor de um animal como o 'mais puro' que existe, esquecendo que esse amor é uma forma condicionada de sobrevivência dele.

Não se pode generalizar a atitude horrenda de um ser humano como o padrão de comportamento globalizado. Amar e respeitar os animais é princípio a ser cultivado sim, mas jamais sem primeiro amar e respeitar os seus iguais, aqueles por quem devemos preservar e cultivar em nossas amizades, relacionamentos e convivência.

O cachorro estará lá, abanando o rabo quando estivermos voltando para casa. Ele esperará por seu afago e pelo prato de comida e água limpa. Discordo totalmente dos humanos que centralizam suas vidas em torno de um animal, a ponto de mudar sua rotina, seus hábitos, seus horários, trocam seu ciclo social, sacrificam a convivência da família e dos amigos unicamente para buscar o bem estar animal acima de tudo. Certamente há uma carência profunda nestes que enxergam em quatro patas o que deveriam fazer em duas.

De nada adianta bem tratar o cachorrinho e viver dando patadas nos humanos, ainda que esta patada seja a hostilidade e o vazio em que suas vidas se transformam em função disso. 

Certa vez, assisti no programa chamado "o Encantador de Cães" o adestrador afirmar que não adestra os cães, mas sim os humanos. O padrão de felicidade de uma pessoa não é o mesmo de um cão. O que você estabelece como importante para a sua felicidade não deve ser replicado para o animal, pois ele não enxerga o seu mundo da mesma forma.

Animal não come na mesa, não dorme em nível elevado do chão, não tem noção de tempo.

Hábitos saudáveis para um cão passam longe disso. Passam por respeito aos limites, territorialidade e instintos que lhe são próprios. Assim, comer em uma vasilha no chão, dormir no paninho do lado de fora da casa, e ter que esperar até o fim do dia para receber um 'oi' do dono, são os itens que o faz feliz. Por isso, de nada adianta permitir que seu cão divida a casa com você, sem limites, coma da sua comida, e durma do seu lado, no mesmo travesseiro, pois a única coisa que você irá criar será um animal perturbado.

Achei fantástica a colocação do profissional. 

Em verdade, na sua doutrina, o encantador de cães esclarece que o cão é um animal seguidor por natureza. Ele vive em matilhas, gosta de seguir. E quanto ele encontra um dono que não sabe liderar, não lhe determina como agir, e nada lhe impõe, ele passa a fazer esse papel, mas totalmente desnorteado, pois não sabe conviver com esta personificação imposta.

Posso dizer, sem medo: eu crio cachorras felizes! 

E não precisei impor a elas hábitos humanos para isso.

2 comentários:

Fernanda disse...

Também fiquei chocada com o caso. Como protetora de animais, vivo na luta contra a violência e um vídeo como aquele me deixou arrasada.

Vejo homens e outros animais distanciados apenas no que se refere à capacidade de pensar dos primeiros. Mas essa capacidade teria, para que se justificasse a sua "superioridade", que ser usada no sentido de respeitar, preservar, cuidar da Mãe Terra. E eis que o homem faz o inverso sob a desculpa de que é um ser superior: está dizimando a Terra e os outros seres. Assim considero a raça humana inferior às demais, infelimente.

Quanto à exposição da criança àquela perversidade, envio o link de uma análise bem interessante de uma psicóloga sobre o fato. Vale a pena a leitura:

http://www.anda.jor.br/17/12/2011/matando-seu-cao-de-%E2%80%9Cestimacao%E2%80%9D

Rita disse...

Concordo em muito com você, Isabela. Não vou tão longe a ponto de dizer que animais com certos hábitos "humanizados" são perturbados, porque não tenho conhecimento para fazer essa afirmação. No mais, sinto o mesmo desconforto que você. Não acompanhei a repercussão do caso, mas sei do que se trata; e essa mania de botar todas as pessoas no mesmo saco e endeusar animais me incomoda também, acho uma inversão de valores bem curiosa... Enfim, assim caminha a humanidade.

Beijinho procê,
Rita

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