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quinta-feira, 10 de março de 2011

Talento e inovação incomodam muita gente...


Algo que me incomodou muito esta semana foi o resultado do desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Não quero aqui tecer considerações sobre esta ou aquela agremiação, nada de bairrismos ou sardinhas puxadas para o lado de quem quer que seja.

Quero esclarecer bem que não sou fanática nem torcedora de qualquer Escola de Samba.

Falo sobre talento. Um talento tamanho que não foi capaz de vencer o desfile. A Beija-Flor deve ter seus méritos, não sou técnica no assunto, sou apenas mais uma espectadora. Mas nada pode ser comparado ao carnavalesco Paulo Barros, da Unidos da Tijuca.

O que ele fez na Sapucaí não é comparável a nenhum outro espetáculo da mesma natureza. Talvez Joãozinho Trinta, décadas atrás, tenha sido tão inovador quanto ele, mas como era muito pequena, ainda não prestava muito atenção no assunto.

Lendo temas variados na internet, deparei-me com este texto de Zeca Camargo, o apresentador do Fantástico que foi flagrado cantando e vibrando na Avenida, ao longo do desfile da Tijuca. Ele redigiu com maestria exatamente o mesmo sentimento que tento repassar aqui agora, e que também senti ao ver campeã a Beija Flor.

Paulo Barros foi absolutamente fantástico. Conseguiu fazer com que meus olhos aguentassem firme, às três horas da manhã, o fim de seu desfile, tantas eram as surpresas que estavam na avenida. Um trabalho realmente excepcional, estupendo, magnífico, diferente de tudo o que já havia sido ali exposto, capaz de contagiar, encantar, surpreender...

Tomando por base a 'derrota' da Unidos da Tijuca consigo fazer uma analogia ao nosso próprio cotidiano, onde muitas vezes ousar significa ser rejeitado, quando demonstrar talento afasta e reprime, onde inovar acaba sendo interpretado como ultrapassar limites não permitidos.

Em seu texto, Zeca Camargo assim expôs: "No nosso dia-a-dia, somos cercados de “mais do mesmo”. Olhe aí, em volta de você agora, enquanto está lendo este texto. Tudo igual, todo mundo fazendo o que é mais confortável, seguindo o caminho mais fácil, tentando não chamar atenção… Não, assim não gosto – assim eu não acredito que a gente muda nada, que o mundo anda… Pelo contrário, é o próprio mundo que me provoca a pensar em tudo de um jeito diferente. E quem pensa assim comigo, já é meu herói. Como esse tal de Paulo Barros – o vencedor!"

E não é que é assim mesmo? Enquanto a Tijuca desfilava, ouvia horrorizada os comentários dos 'entendidos' dizendo que o desfile estava muito repetitivo, muitas alas coreografas, e que tudo parecia muito igual ao desfile do ano passado do mesmo carnavalesco. Ora, sinceramente, faça-me o favor! Se tivessem um décimo do talento de Paulo Barros, certamente teriam algo melhor a dizer.

Depois de assistir ao desfile da Tijuca, tudo pareceu-me muito sem graça, nada tinha o mesmo brilho, o mesmo encantamento... e nada conseguiu prender minha atenção àquele ponto.

Sou uma incansável admiradora do talento alheio. São estes talentosos, ousados e inovadores gênios que fazem o mundo andar, dar saltos à frente. São eles que impulsionam os que não tem coragem, eles que lideram as massas, que gritam primeiro, que arrancam suspiros, que emocionam, que encorajam, que fazem diferente.

Seja no Carnaval, na música, no cinema, na literatura, na pintura, escultura. Seja em casa, no trabalho, na praça, na reunião do condomínio. Seja no projeto social, na favela, no palácio, na política, no serviço público, nos hospitais. Seja na escola, no trânsito, no avião, no barco, na universidade. No restaurante, na praia, no circo... Em qualquer lugar, talentos devem e merecem ser reconhecidos, exaltados e aplaudidos sempre. 

Mesmo que os críticos, os especialistas e os famosos entendidos assim não compreendam. Mesmo que demore, mesmo que doa, mesmo que a vitória não chegue a tempo. Mesmo assim, é preciso reconhecer um talento e inovar sempre.

Disse Paulo Barros, numa entrevista antes do desfile: “O que eu quero fazer é uma grande festa. Mais do que ganhar o desfile, se eu conseguir levar um espetáculo deslumbrante em que todo mundo se divirta, eu vou ficar feliz”. 

Um talentoso sempre se satisfaz quando atinge os objetivos que ele mesmo traçou. Ele, com certeza, conseguiu os dele. Que assim sejamos todos nós, ao explorarmos nossos talentos. Que ninguém precise reconhecê-los, porque incomodam, invejam, ridicularizam.

Faça a sua parte que tudo fica certo! 


Ironicamente, o primeiro verso do samba enredo da Tijuca era: 'Tá com medo de quê?


Inspire-se, inove, faça, ouse... sem medo!

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