RSS

terça-feira, 29 de maio de 2012

Gentilezas


Essas coincidências da vida são intrigantes. Estava eu percorrendo as horas do meu cotidiano agitado quando me deparei com uma plaquinha semelhante a essa da imagem. Num dia de trânsito caótico aqui na minha cidade (greve total de transporte coletivo, imagina só os nervos à flor da pele do povo andante), a tal plaquinha parecia um recado sarcástico, irônico e inatingível.

Parei um pouquinho para pensar, afinal o engarrafamento monstro que enfrentava era mais do que um convite à reflexão. Quantas vezes fui rude assim, gratuitamente, só porque, naquele exato momento, estava eu matutando com meus botões algo não tão agradável... algumas vezes, por certo, talvez mais do que devesse ou quisesse.

Tenho muitos defeitos. Alguns deles tão colados à minha personalidade que são difíceis de me imaginar sem eles, embora eu tente. Um de meus traços negativos marcantes é, com certeza, a impaciência. Não aquela assim, gratuita, mas a impaciência que aflora quando se chega ao limite daquilo que considero aceitável. Esta impaciência pode ser com relação a situações, coisas ou pessoas. Tudo e todos podem ser alvos.

Quando atinjo meu limite (aquele que só eu sei qual é), o negócio entorta. Crio um cercado tão pesado e duro em torno daquela situação ou pessoa que nem eu mesma, querendo, consigo transpor. Mais fácil deixar como está e seguir em frente.

Esta, porém, não é a atitude esperada de alguém que pretende melhorar.

Gentileza gera gentileza. Humf, pois bem. Vamos lá, depurar os defeitos.

Até que ponto você será apenas gentil ou um tremendo e patético idiota? Merece gentileza aquele que te desrespeita? Agride? Engana? Tira vantagem? Simula? Mente? Puxa o tapete? Tenho dificuldades em aceitar essas situações como geradoras natas de gentilezas, embora acredite que desafetos estão mais preparados para as agressões do que para as gentilezas.

Talvez seja esse o recado da plaquinha. Mas, confesso, difícil aplicá-la na prática. Ouso discordar, sob certos aspectos da tal máxima. É claro, porém que os alvos devem ser certeiros, jamais gratuitos. Estas situações, sim, merecem atenção e cuidados.

Buscarei diferenciá-las. Afinal, hoje, dia 29 de maio, é o Dia Nacional da Gentileza.

Coincidência, não?

sábado, 12 de maio de 2012

Maternidade


Dias das mães se aproximando e o tema merece mais do que respeito. Merece post especial.

Eu poderia aqui escrever sobre minha mãe, sobre a mãe de minha mãe, sobre as mães que conheço, sobre mim mesma, mulheres especiais que trilham o caminho da maternidade...mas escolho algo diferente.

Quero escrever sobre sentimentos maternos. Abordando assim, consigo escrever sobre tudo o que acima expus, de modo ainda mais carinhoso e sensível, tal como as mães são.

Difícil explicar e, pior ainda, traduzir em palavras, a ideia de gerar um filho. Tem lá os seus desconfortos e ansiedades, período de medos e tiros no escuro, mas a grande verdade é que a vida brotando no ventre é muito superior ao desconhecido. É forte, é poderoso, é mágico. A maioria de nós mergulha de cabeça na experiência. Comigo também foi assim.

Descobri que estava grávida no banheiro do escritório em que trabalhava já há muitos anos. Aquele simples teste de farmácia, que até hoje guardo com as duas fitinhas azuis marcadas, fez mudar minha vida para sempre. Tanto que nem é possível lembrar, hoje, de como era, como fui e como minha vida se apresentava antes daquele dia. Isso porque tudo só passou a fazer sentido a partir daquele momento.

Levei um susto. Por alguns segundos, o tempo parou...

A primeira sensação que tive foi de que nunca mais estaria sozinha. Logo eu, que era tão individualista... Alguém, agora, dependeria exclusivamente de mim. E esta dependência perduraria por bons anos e só eu mesma conseguiria suprir-lhe os desejos mais básicos de sobrevivência, convivência, experiência, ciência, e todas as inúmeras "ências" que se apresentassem. Isto foi assustador. Não havia mais retorno, era preciso encarar de frente o desafio.

Medo...Insegurança...Dúvida. Será que conseguirei transmitir algo de bom? Tenho algo de bom? Isso é bom? Perguntas pipocavam e latejavam em meus pensamentos e só aumentavam junto com a circunferência da minha barriga, num processo lento e contínuo...

A maternidade coloca à prova, de imediato, os teus próprios valores. Filtros são inevitáveis...

O que é essencial à vida? Que valores quero replicar e fazer perpetuar? Qual o limite da minha metade de responsabilidade perante essa criança? Existe limite, existe metade ou apenas um conjunto indivisível entre pai, mãe e filho? Conscientemente, concentrei-me no papel de mãe. Era o que competia a mim.

Foi o maior exercício de auto conhecimento a que fui exposta. Tive que aprender rápido e deixar pronto, junto com meu corpo, minha disposição e meus sentidos, as ações e planejamentos para os próximos dois anos... E depois por mais três, e agora já parto para o terceiro plano temporal.

Fiz assim, por etapas. Virginiano é bicho irritante. Para mim, foi bom. Consegui, dessa forma, ter lucidez nesse emaranhado de emoções e descobertas infindáveis. Viver uma experiência de cada vez pareceu-me mais lógico e permitiu-me intensificar as emoções.

Facilitou muito o grande exemplo que tenho como mãe. Puxando pela memória (sim, maternidade também te faz voltar ao passado), foi simples reviver os momentos do cotidiano e replicar minha maternidade na mesma proporção e força da forma como fui cuidada e, mais do que isso, conduzida. Repeti, sem medo de plágio, sem pedir autorização. Em time que está ganhando não se mexe. Minha mãe acertou muito, acertou demais. Trilhar outro caminho, pra quê?

Nos momentos em que a insegurança bate, e ainda são muitos, essa busca ao passado me acalma e traz confiança. Só transmite confiança quem acredita. Eu acredito que o que faço é o melhor... A energia flui e o amor é o maior alimento dessa energia... e amor de mãe...isso me sobra aos montes. Vi e senti amor de mãe em doses extraordinárias... Transferir esse mesmo amor à minha filha foi simples demais. Os créditos desta história não são só meus.

O medo e a insegurança do início, do meio, e até quando o fim chegar, foram e sempre serão instrumentos para a construção de certezas. Em se tratando de maternidade, não há segunda chance. A cada encruzilhada (e são muitas, sempre), o caminho escolhido se subdivide lá na frente de novo, enquanto que o não escolhido se dissolve como castelo de areia ao vento. Sendo assim, melhor escolher na certeza...dominar o medo e a angústia e dedicar-se a fazer sempre o seu melhor.

As retribuições de todo o esforço costumam vir em dobro e sob diversas formas: beijos melecados, desenhos significativos, cheiros doces, polegares dizendo 'sim', frases surpreendentes, olhares carinhosos, um sem número de 'eu te amo' na mesma proporção do chamado 'manhê!', ...e tudo isso constrói mais certezas, num ciclo saboroso e revigorante.

Tudo fez sentido a partir daquelas duas tirinhas azuis.

Não conheço nada melhor do que ser mãe, do que ter uma mãe e de sentir, transmitir e pulsar, todos os dias, aquele que é o amor mais puro e mais sublime de todos. Amor que não pede passagem, que não cobra e nem espera, amor que dedica, alimenta e silencia. Ensina e engrandece. Amor que conhece e afaga, renasce e brota, acalma e faz bem. Amor que renuncia e dedica, amor que não se explica, amor que, apenas, se aprende vivendo.

Agradeço a Deus por ter sido duplamente agraciada: ter e ser mãe é privilégio de poucas.

Feliz Dia das Mães!!

domingo, 6 de maio de 2012

Lições do mundo craft


Já não é de hoje que estou encantada pelo mundo craft. Essa dedicação já deve estar alcançando quase um ano e, de lá pra cá, ganhei muito mais do que me dediquei.

Mais do que um simples hobby, aprendi a conviver e dominar com meus imediatismos, ansiedades e impaciências. Afinal, uma peça, não fica pronta e acabada no mesmo dia, no momento em que eu determinar, mas sim, apenas quando todos os elementos, todas as partes do conjunto, forem finalizadas.

Ontem fui a uma feira de patchwork, que aconteceu aqui na minha cidade. Foi o Floripa Quilt, um festival que reuniu quilteiras e crafteiras do país todo. Trabalhos e mais trabalhos eram delicadamente distribuídos por vários stands. Ideias, mimos e carinhos de todos os tipos. Pessoas de todas as idades admiravam, compravam, se encantavam com os trabalhos de, igualmente, profissionais de todas as idades.

Eu, do meu lado, fiquei impressionada com algumas peças. O tempo de dedicação ali depositado parecia infinito, além de, é claro, o capricho e a perfeição que eram um detalhe à parte. Uma lição ficou: a capacidade de se criar coisas lindas supera qualquer dificuldade.

E outra lição: vi que não estou tão atrás assim, mesmo sendo praticamente iniciante e auto didata: meus olhos virginianos alcançaram facilmente defeitos horrorosos nas peças em patchwork embutido. Encorajei-me um pouco mais a avançar, na certeza de que minhas peças são de qualidade.

Reencontrei amigas de longa data, mães de amigas de longa data em mais uma tarde agradável com minha mãe, também crafteira de mão cheia. Rimos, suspiramos, acalmamos, nos inspiramos...

Novos trabalhos virão...

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Torradas queimadas


Sentei-me para escrever mais um post. Antes disso, resolvi apenas abrir meu e-mail. Mais uma das tantas vezes que chequei a caixa de mensagens hoje...
Lá, havia uma, de uma querida amiga, Patrícia. Aquela amiga de infância, cujas memórias são doces e engraçadas, e que, depois de tantos anos, as redes virtuais permitem nova aproximação e encontros.
Abri, assim, imaginando que o teor da mensagem fosse, apenas, os detalhes do café que estamos planejando. Mas foi mais do que isso.
Recebi a mensagem abaixo. Linda e exatamente sobre o assunto a que me dispunha, inicialmente, a escrever.
Um texto tão simples e tocante, que pode sintetizar o modo com o qual deveríamos nos relacionar com todas as pessoas e com o mundo em que, infelizmente, predominam a intolerância, o preconceito e a ingratidão. E assim chegou até mim 'Torradas Queimadas', cujo autor é desconhecido, mas sua intenção e sensibilidade jamais deveriam sê-lo:


TORRADAS QUEIMADAS!

Quando eu ainda era um menino, ocasionalmente, minha mãe gostava de fazer um
lanche, tipo café da manhã, na hora do jantar. E eu me lembro especialmente
de uma noite, quando ela fez um lanche desses, depois de um dia de trabalho,
muito duro.

Naquela noite, minha mãe pôs um prato de ovos, linguiça e torradas
bastante queimadas, defronte ao meu pai. Eu me lembro de ter esperado
um pouco, para ver se alguém notava o fato. Tudo o que meu pai fez, foi pegar a sua
torrada, sorrir para minha mãe e me perguntar como tinha sido o meu dia, na
escola.

Eu não me lembro do que respondi, mas me lembro de ter olhado para ele
lambuzando a torrada com manteiga e geléia e engolindo cada bocado.

Quando eu deixei a mesa naquela noite, ouvi minha mãe se desculpando por
haver queimado a torrada.
E eu nunca esquecerei o que ele disse:
" - Adorei a torrada queimada..."

Mais tarde, naquela noite, quando fui dar um beijo de boa noite em meu pai,
eu lhe perguntei se ele tinha realmente gostado da torrada queimada.
Ele me envolveu em seus braços e me disse:

" - Companheiro, sua mãe teve um dia de trabalho muito pesado e estava
realmente cansada... Além disso, uma torrada queimada não faz mal a
ninguém. A vida é cheia de imperfeições e as pessoas não são perfeitas. E eu
também não sou o melhor marido, empregado, ou cozinheiro, talvez nem o
melhor pai, mesmo que tente todos os dias!"

O que tenho aprendido através dos anos é que saber aceitar as falhas
alheias, escolhendo relevar as diferenças entre uns e outros, é uma das
chaves mais importantes para criar relacionamentos saudáveis e duradouros.

Desde que eu e sua mãe nos unimos, aprendemos, os dois, a suprir um as
falhas do outro. Eu sei cozinhar muito pouco, mas aprendi a deixar uma
panela de alumínio brilhando.
Ela não sabe usar a furadeira, mas após minhas reformas, ela faz tudo ficar
cheiroso, de tão limpo. Eu não sei fazer uma lasanha como ela, mas ela não
sabe assar uma carne como eu. Eu nunca soube fazer você dormir, mas comigo
você tomava banho rápido, sem reclamar.
A soma de nós dois monta o mundo que você recebeu e que te apoia, eu e ela
nos completamos. Nossa família deve aproveitar este nosso universo enquanto
temos os dois presentes. Não que mais tarde, o dia que um partir, este mundo
vá desmoronar, não vai. Novamente teremos que aprender e nos adaptar para
fazer o melhor.

De fato, poderíamos estender esta lição para qualquer tipo de
relacionamento: entre marido e mulher, pais e filhos, irmãos, colegas e com
amigos.

Então filho, se esforce para ser sempre tolerante, principalmente com quem
dedica o precioso tempo da vida, a você e ao próximo.

"As pessoas sempre se esquecerão do que você lhes fez, ou do que lhes disse.
Mas nunca esquecerão o modo pelo qual você as fez se sentir."
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...