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quinta-feira, 15 de março de 2012

Quando os sinos tocam...

 

O post de hoje é inspirado em um texto que chegou assim, despretensiosamente, às minhas mãos, por meio de uma sensível amiga. Disse ela que tinha certeza de que eu adoraria lê-lo. Acertou em cheio.

O texto é de José Saramago, este renomado escritor português, que justifica ter ganho o Prêmio Nobel de Literatura de 1998 (só?), tamanha sensibilidade e perfeição de seus textos. Tem como título a intrigante metáfora: Da justiça à democracia, passando pelos sinos.

Obviamente, não chego aos pés de Saramago, mas dou-me ao luxo de parafraseá-lo quantas vezes entender possível, ao longo do que hoje resolvi escrever.

Em síntese, Saramago buscou provocar seu leitor a refletir sobre justiça e democracia, estes conceitos abstratos a que tantas vezes foram cenários de inúmeros pensamentos meus. Atualmente, o que penso sobre estas duas concepções não chegam perto da ideia original que tinha, muito antes de pensar que dedicaria minha vida profissional ao Direito.

Teoricamente, a sociedade defende a justiça com imenso afinco, esquecendo-se que, na prática, muito mais se lhe provoca a morte. Todos os dias. Agora mesmo, perto ou longe e até ao lado de nossa casa, alguém a está matando. E se há morte é como se a justiça nunca tivesse existido para os que nela confiam. Saramago provoca ainda mais, criticando ferrenhamente a justiça que se envolve em túnicas teatrais ou a que nos confunde com flores de vã retórica judicialista. Aquela que permite vendar-lhe os olhos ou viciar os pesos da balança. Aquela da espada que sempre corta mais para um lado do que para o outro. Quer exaltar, ao contrário, a justiça idealizada como uma companheira cotidiana da sociedade, para quem o justo seria o mais exato e rigoroso sinônimo de ético, uma justiça que chegasse a ser tão indispensável à felicidade do espírito com indispensável à vida é o alimento do corpo.

Quando tudo se encontra limitado ao simples exercício do cumprimento das obrigações cotidianas nada mais há senão o dócil e burocratizado sistema (in)consciente, culminando num adormecimento social flagrante. E, utilizando metáforas de forma magistral, Saramago ainda alerta que, assim, o rato dos direitos humanos acabará por ser implacavelmente devorado pelo gato da globalização econômica.

Com a democracia não é diferente. Classicamente, é um governo do povo, pelo povo e para o povo. Bela teoria, mais uma vez. Contudo, o que se tem é uma gestão falsamente democrática, concebida a partir de uma centelha chamada voto. É verdade que somos reconhecidamente cidadãos eleitores, capazes de votar, mas nossas escolhas são limitadas a segmentos partidários compostos apenas de relevância numérica e de incontáveis combinações políticas duvidosas.

Podemos, sim, desbancar um governo e pôr outro no lugar. Saramago provoca... será mesmo? Convida-nos a refletir afirmando que o voto não teve, não tem nem nunca terá qualquer efeito visível sobre a única e real força que governa e gira o globo: o poder econômico. Grande parte desse poder é gerenciado por gigantes que, de acordo com suas estratégias de domínio, distanciam-se, sem culpa, do bem comum, do coletivo e de tudo que, por definição, é próprio da democracia.

No fundo, no fundo, todos sabemos que é essa a crueldade real, mas por algum automatismo verbal ou mental nos forçamos a não enxergar o que está diante dos nossos olhos e continuamos a falar de democracia como se fosse algo vivo e dinâmico, real e concreto, quando ela é apenas um conjunto de formas ocas, inócuas e ritualizadas. E por uma espécie esquisita de auto proteção, esquecemos que alguma parcela de culpa nos cabe, e nos forçamos a também girar a roda da mesma maneira que dantes. Assim, reproduzimos e nos tornamos meros comissários políticos do poder econômico, com sua objetiva missão de produzir leis convenientes, para depois, envolvidas nos açúcares da publicidade oficial, serem introduzidas na sociedade sem demandar protestos, exceto pelas minorias baderneiras eternamentes descontentes. Sim, os descontentes são taxados de baderneiros. Simples assim. E o grito que poderia ser o início de um grande berro é sonoramente reduzido a ruído irritante, aquele que se quer desligar a qualquer custo.

E, enfim, tudo volta ao seu ciclo normal. Engano, mero engano. E não há pior engano do que o daquele que a si mesmo engana.

E o que têm os sinos a ver com tudo isso? Ah... só lendo Saramago pra saber...

quarta-feira, 14 de março de 2012

Quanto vale a sua honra?

 

A história de hoje vem de Curitiba, lida no portal G1, numa dessas minhas andanças pelas notícias virtuais do dia de hoje.

Uma senhora aposentada, de 84 anos, pagou uma dívida que fez há cinquenta anos atrás, no mercado de seu bairro. Ela deixou de pagar, na época, porque passava por sérias dificuldades financeiras, o valor de 7.940 cruzeiros.

Hoje, com orgulho, pagou sua dívida, atualizada e corrigida em R$ 150,00, referente a  um pacote de açúcar, três pacotes de café, dois quilos de arroz, um pacote de macarrão, meio quilo de banha, um quilo de feijão e um pote de margarina. O dono do mercado, que já nem se lembrava mais da tal dívida, emocionou-se com o pagamento, que não pôde ser recusado, a pedido da antiga devedora, que disse ficar ofendidíssima caso o dinheiro não fosse aceito. Até o bilhete, com as anotações da compra, foram guardados pela aposentada, que revelou ainda 'nunca ter esquecido' da dívida que fez e que não conseguira honrar, por motivos que fugiram de seu controle.

A história, simples, tocou-me profundamente. Fez-me refletir o quanto vale a honra, não aquela medida por números os cifrões, mas a que se traduz pela retidão e pela honestidade de brasileiros que, apesar de bombardeados com excessos de corrupção, falcatruas e desmandos, ainda insistem em fazer, tão somente, o que é certo. Simples assim.

Inspiração pura!

segunda-feira, 12 de março de 2012

O essencial é invisível aos olhos...



Diz um conto já clássico de Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto) que uma velhinha, todos os dias, passava na fronteira pilotando uma lambreta, carregando um saco de areia. Desconfiado, um dos agentes fez várias batidas e nunca a flagrou transportando nada que não fosse o mero saco. 

Já vencido pelo cansaço, fez uma proposta. Jurou que nunca faria nada contra ela, mas implorou que dissesse o que contrabandeava. Ao que ela respondeu: lambreta!

Sim, o essencial é invisível aos olhos!

quinta-feira, 1 de março de 2012

Pulga Esperta


Viver é simplesmente uma questão estratégica. Em geral, resolver um problema é algo muito simples, demandando dois ou três neurônios e uma boa dose de observação e paciência...

Duas pulgas estavam insatisfeitas porque o sucesso das coçadas do cachorro que habitavam era muito maior do que o de suas picadas. Uma delas assim disse: - o problema é que não conseguimos voar, e assim, nossas escapadas das patas do cachorro ficam mais lentas e ele nos alcança com mais facilidade. Vamos fazer um curso de moscas para aprender a voar, pois, afinal, existem mais moscas no mundo do que pulgas, certamente é porque elas voam e as pulgas, não.

Após concluírem o curso de moscas, ainda não estavam satisfeitas. As abelhas eram melhores, pois além de voar, ainda flutuavam no ar, conseguindo levantar voo com mais agilidade e rapidez.

- Vamos para o curso de abelhas! Lá aprenderemos muitas táticas importantes para nossa sobrevivência!

Finalizado o curso de abelhas, o resultado não havia sido satisfatório. - O problema é que nosso estômago é muito pequeno. Veja só os pernilongos! Numa picada só enchem a barriga de sangue e conseguem rapidamente se alimentar. Precisamos de um curso de pernilongos!

Depois do fim do curso, as pulgas voadoras, flutuadoras e barrigudas eram facilmente percebidas pelo cachorro, que as impedia de pousar antes mesmo delas se aproximarem... Nem no lombo conseguiam mais chegar. Fracasso total...

Nisso, as pulgas, agora choronas, sem saber o que fazer, foram ultrapassadas por uma pulguinha saltitante e minúscula. Ela estava bem alimentada, forte e feliz e se dirigia ao tal cachorro que as barrigudas nem conseguiam chegar perto...

- Ei, ei, pulguinha! Como você consegue chegar em todos os cachorros e se alimentar com tanta facilidade?

- Facil! Foi só observar o cachorro por alguns instantes. Percebi que o cocoruto é o único lugar que ele não alcança com suas patas, nem com sua boca. É pra lá que eu vou e fico tranquilamente me alimentando, pelo tempo que quiser...

Essa história me faz lembrar uma frase de Albert Eisntein...

" Não se pode resolver os problemas 
utilizando o mesmo tipo de pensamento 
que usamos quando os criamos. "
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